sábado, 23 de janeiro de 2016

Obrigado, Obama!


Escrito em 16 de Dezembro de 2015


Em uma conferência de imprensa no Panamá, ao final da Cúpula das Américas realizada em Abril desse ano, Barack Obama afirmou que seu objetivo em Cuba não é a “mudança de regime”. Porém, em uma entrevista que acaba de conceder ao Yahoo News, em vésperas de concluir o primeiro ano do que os Estados Unidos denominou como um “novo começo” para Cuba, o presidente estadunidense tem pedido uma “transformação substancial” da sociedade cubana e tem justificado assim apresentar “argumentos mais fortes ao Congresso sobre a importância de se eliminar o embargo”.

Em suas declarações ao Yahoo, Obama não só tem repetido os habituais clichês das administrações norte americanas sobre liberdade e direito humanos, mas também chegou a ir contra a opinião da maioria dos cubanos que participaram das discussões das diretrizes que regem as mudanças econômicas na ilha, fazendo isso ao opor-se a ideia de as empresas estatais continuem sendo em Cuba “a força econômica dominante”.

Em contradição com estas declarações, a introdução de uma empresa americana na Zona Econômica de Mariel com a finalidade de produzir pequenos tratores e direcionada a agricultores privados cubanos, passou meses aguardando a aprovação do governo dos EUA. Isto faz pensar que não é o desenvolvimento de uma economia produtiva não estatal, mas a possibilidade de vincular empreendedores privados diretamente aos Estados Unidos, para poder utiliza-los em sua estratégia desestabilizadora é o que interessa a Washington. 

Como se não fosse o que todos os que visitam Cuba dizem, incluindo funcionários de sua administração como Jonh Kerry e Roberta Jacobson, o presidente apresentou como um desafio “a possibilidade de se reunir com qualquer um e dialogar com qualquer um” em uma hipotética viagem a Havana. Apesar de aparentemente desafiar o governo cubano, esta mensagem está dirigida aos congressistas de extrema-direita de Miami, porque é óbvio que “qualquer um” quer dizer as pessoas beneficiadas em Cuba com os mais de 50 milhões  de dólares que cada ano são solicitado ao Congresso e à Administração gerencia para “programas pró-democracia” na ilha.

Coincidindo exatamente com a imprensa e a academia supostamente livres, que há poucos dias reclamam o mesmo na voz de Carmelo Mesa Largo e o jornal espanhol El País, Barack Obama também instigou a “aceleração das reformas”, e tem dado razões a quem acusa o jornal madrileno de “órgão oficial da Casa Branca em língua castelhana”.

Além de manter em pé todas as atribuições multimilionárias para programas subversivos em Cuba e instrumentos de propaganda e desestabilização como as transmissões da Rádio e TVMartí, a política migratória dos pés-molhados pés-secos e o programa de estímulo a deserção de médicos cubanos, era preciso mais, a entrevista inclui uma piada sobre a reivindicação histórica dos cubanos sobre o território que os EUA ocupam em Guantánamo, o presidente afirmou:

“"Não há dúvida de que a eles lhes encantaria que devolvêssemos Guantánamo. Mas suspeito que vai ser uma discussão diplomática longa que durará mais de mil administrações”"
Em Dezembro de 2014, pressionado com a realidade que a Cúpula das Américas no Panamá não daria em nada se Cuba não comparecesse, Barack Obama tinha um discurso conciliatório, que fez acontecer o evento em Abril. Além disso estava pressionado pela situação criada com o constrangimento de declarar a Venezuela como uma ameaça da segurança nacional dos EUA. Hoje, encorajado pelas vitórias eleitorais que seus aliados conseguiram na Argentina e Venezuela, não dissimulou a linguagem intervencionista. 

Para forçar todas as armas de sua estratégia anti-cubana: o bloqueio, a política migratória seletiva e discriminatória, os fundos e treinamento para a subversão, e as transmissões ilegais de rádio e televisão, somados as dificuldades que o controle parlamentar de seus agentes venezuelanos irá criar com a aliança econômica de Cuba com a Revolução Bolivariana, os Estados Unidos somam a seu favor agora o acesso às instituições e funcionários cubanos através de sua embaixada em Havana, o intercâmbio de delegações e a busca de aliados na emergente economia privada de serviços, associada com o aumento da chegada de turistas americanos em Cuba.

Independentemente de Obama viajar ou não a Cuba em 2016, o confronto se aprofunda, mas também se torna mais claro. Com suas declarações no Yahoo News, o presidente estadunidense revela toda a hipocrisia com que agiu em 17 de Dezembro de 2014. Ensina que somente as pressões fazem Washington mudar de posição e resgata para nossa memória o mais valioso do dia: a alegria pelo regresso a pátria dos antiterroristas presos injustamente nos Estados Unidos. Obrigado, Obama. 

De Iroel Sánches  para Al Mayadeen
Traduzido por equipe do Fuzil contra Fuzil

Um comentário:

  1. Tenho medo da próxima administração que entra agora nos EUA. Espero que o dialogo com Cuba se aprofunde, e traga o fim de sanções ao país.

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