domingo, 28 de agosto de 2016

Acesso de Cuba à Internet completa 20 anos.

Apesar das dificuldades impostas pelo bloqueio, pouco a pouco a internet passa a ser cada vez mais acessada na Ilha. Ainda assim, ao contrário do que pode parecer, o acesso dos cubanos tanto às redes externas quanto internas não é novidade.

Nesse 22 de agosto, completa-se 20 anos desde que o pleno acesso de Cuba à Internet ocorreu, através da ligação do IDICT com o GLOBAL-ONE fornecedor dos EUA, por meio de um canal de transmissão 64 Kbs, o que favoreceu significativamente o serviço de e-mails.

Em 1973, Cuba juntou-se ao Centro Internacional de Informação Científica e Técnica dos países membros do Conselho de Assistência Mútua Econômica (CAME), e começou seu trabalho no Sistema Internacional de Informação Científica e Técnica. Neste mesmo ano entra em funcionamento a estação terrestre Caribe, integrada ao sistema Intersputnik  de comunicações por satélites artificiais.

Entre fevereiro de 1983 e maio de 1984, um grupo de especialistas e instituições cubanas e soviéticas começou a realizar um trabalho experimental conjunto para a transmissão automatizada de informações via satélite. Em 1985, instalou-se o Centro Nacional de Intercâmbio Automatizado de Informações, um microcomputador de fabricação Norueguesa para desenvolver gradualmente e testar vários serviços telemáticos, incluindo mensagens eletrônicas. [1]

Em Junho de 1987, estabeleceu-se na província de Matanzas o primeiro equipamento de comunicações desenvolvido em Cuba com a sua própria tecnologia, e permitiu-se o estabelecimento de uma pequena rede experimental ao serviço do Poder Popular Provincial, que funcionou como parte da rede da Academia de Ciências de Cuba (REDACC).

O relatado até aqui mostra os esforços feitos pelo governo cubano desde os anos 1970, para acelerar a introdução de tecnologias que permitissem o desenvolvimento de redes de computadores no país e acesso à informação

Creio que é importante lembrar que, desde 1986, a empresa de telecomunicações dos Estados Unidos, a AT & T, começou a negociar com o governo de seu país a autorização para construir um cabo submarino analógico entre os EUA e Cuba, que substituiria ultrapassado sistema troposférico, única via de comunicação existente entre os dois países na época.

Em meados de 1988 são obtidas as autorizações para a colocação do cabo submarino sem deixar de aplicar o bloqueio tecnológico contra Cuba, porque era um trecho de cabo de tecnologia ultrapassada, recuperado do fundo do mar depois de ser substituído no Atlântico, e com uma capacidade de apenas 143 circuitos, quando as necessidades de tráfego existente eram muito mais elevadas. Não obstante essa discriminação tecnológica, o governo cubano também autorizou a realização da ligação como um esforço a mais para manter as comunicações.

Em 1989, depois de vários meses destinadas a prospecção, projeção, preparação, colocação de cabos e sintonia das estações, conclui-se a instalação do sistema de cabo submarino analógico  entre Cuba e os EUA, o denominado Cabo No 7 .

Apesar disso, este cabo nunca foi posto em serviço já que o governo dos EUA não aprovou um acordo de serviços justo, razoável, equitativo, e em conformidade com as normas internacionais entre os operadores de telecomunicações de ambos os países. Da mesma forma, durante anos impediram com que Cuba fosse conectada a redes de telecomunicações internacionais via cabos de fibra ótica que passam perto da ilha, alguns poucos 30 quilômetros, forçando conexões com uso de satélites, que não só são mais caros, mas que são de banda mais restritas, mantendo as conexões lentas.

Em 1996, Cuba tinha quatro redes com conexões internacionais: Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia (CIGBnet), Centro de Intercâmbio Automatizado de Informação (CENIAI), Jovem Club (Tinored) e Ministério da Saúde (Infomed). Naquele ano, um relatório da Rand Corporation, um think tank ligado ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos reconhece que "Cuba tem desenvolvido uma considerável comunidade de redes com capacidades e serviços. Isso é o resultado de uma dedicação de longo prazo para a educação em toda a sociedade, um importante desenvolvimento de programas de pesquisa e terapêuticos no campo da biotecnologia e da medicina. Cuba tem todo o conhecimento necessário para operar um link de IP internacional e o consentimento do governo. Faltam fundos e um contrato de trabalho ou plano de cooperação entre várias redes; mas, eventualmente, irão conseguí-lo "[2]

Entre as recomendações da Rand Corporation para o Pentágono refletidos nesse relatório estão: estimular uma conexão IP direta com a Internet para dar aos cubanos acesso interativo a materiais estrangeiros; dar uma resposta rápida ao pedido feito pela empresa WilTel de uma autorização para construir um cabo óptico entre os Estados Unidos e Cuba, pendente desde março de 1994, e outras solicitações para fornecer vários serviços relacionados a dados; estimular viagens desde Cuba para fins de treinamento e capacitação na administração de redes de computadores, e outras formas de intercâmbio técnico.

Neste contexto, ocorre o pleno acesso de Cuba à rede, há 20 anos. O progresso discreto na expansão dos serviços de Internet, na minha opinião, tem como raiz o bloqueio tecnológico, a interferência nos assuntos de nosso país usando as TIC e as dificuldades de natureza interna que prevaleceram nesse período.

Escrito por Omar Pérez Salomón, publicado em La Pupila Insomne
Tradução Equipe Fuzil contra Fuzil.

Notas:

[1] Do livro “Secretos de Internet”.

[2] Relatório da Rand Corporation: “Las telecomunicaciones cubanas, la red de computación y las implicaciones en la política de los Estados Unidos.” Elaborado para a Oficina do Secretário de Defesa dos Estados Unidos, julho de 1996.

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